A IRONIA NOS ROMANCES DE EÇA DE QUEIRÓS
A hipocrisia continua tão presente na sociedade portuguesa como quando Eça a retratou nos seus livros.
As qualidades e os defeitos dos homens constituem um todo que corresponde à imperfeição do ser humano. Ora Eça deu, como nenhum outro, cor e vida a essa imperfeição sobretudo à conta da figura literária da ironia.
Mais do que ser “realista”, Eça era um grande ironista. Quer uma (a ironia), quer o outro (o realismo) assustam os hipócritas e tem a condescendência da sociedade.
No fundo, a estátua que o imortalizou em Lisboa “imortalizou” simultaneamente a vastíssima hipocrisia nacional que treme de medo “que se saiba” a verdade.
O incesto em “Os Maias” era patriótica e socialmente aborrecido por se saber que existia. Não era um mal em si, que é o que significa a metáfora literária de Eça.
Tal como não eram os amores do padre de Leiria, os do primo de Luísa ou a frequência de lupanares por políticos das Cortes e do governo de Sua Majestade.
Eça usava a vida privada das personagens para expor a hipocrisia nacional.
É isso o que aquela frase por baixo da estátua quer dizer :
“sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia".
Foto: Largo Barão de Quintela perto do largo de Camões, em Lisboa.